Kawasaki aposta em robôs cirúrgicos para conquistar novo mercado bilionário

A gigante japonesa Kawasaki, conhecida mundialmente por sua liderança em robótica industrial, agora mira um novo e promissor mercado: o de robôs cirúrgicos. À frente dessa ambição está Yasuhiko Hashimoto, presidente da Kawasaki Heavy Industries (KHI), que aposta na fusão entre tecnologia avançada e um elemento essencial — o fator humano.
Engenheiro de formação, Hashimoto não é médico, mas demonstra habilidade impressionante ao operar o robô cirúrgico desenvolvido por sua startup, a Medicaroid, em um laboratório de testes em Tóquio. Controlando quatro braços robóticos com sondas cirúrgicas, ele posiciona anéis minúsculos com precisão sobre cones, manipulando o equipamento com mãos e pés a uma distância de dois metros. A demonstração, embora simbólica, mostra o potencial dessa tecnologia.
A Medicaroid, fundada em parceria com a Kawasaki, já comercializou cerca de 70 unidades do modelo atual no Japão. Agora, a empresa se prepara para expandir internacionalmente, com os próximos destinos sendo Singapura e Malásia. A Europa também está nos planos, com a expectativa de aprovação regulatória ainda este ano. Mas, segundo Hashimoto, isso é apenas o começo: “Queremos nos tornar um dos líderes mundiais nesse setor, assim como já somos na robótica industrial”, afirma.
Apesar da ambição, Hashimoto entra em um campo altamente competitivo. Empresas norte-americanas como Intuitive Surgical, Stryker e Medtronic já dominam o mercado global de robôs médicos. Além disso, muitos profissionais de saúde ainda são céticos quanto a novos sistemas, após experiências frustrantes com modelos anteriores.
Dados da consultoria Grand View Research indicam que o mercado de robótica médica deve crescer 9,4% ao ano até 2030, alcançando um faturamento de US$ 7,4 bilhões. Esse avanço é impulsionado, principalmente, pelo envelhecimento das populações em países desenvolvidos e pela escassez crescente de médicos. Nesse cenário, robôs cirúrgicos controlados remotamente por especialistas surgem como uma possível solução para suprir a demanda crescente.
Hashimoto enxerga um futuro no qual cirurgiões experientes, atuando a partir de grandes centros urbanos, possam realizar operações em regiões afastadas, inclusive em outros países, transmitindo simultaneamente seu conhecimento aos médicos locais. Essa integração entre inteligência humana e precisão robótica poderia transformar a medicina moderna.
No entanto, há desafios técnicos e culturais. O professor Masakazu Yagi, engenheiro biomédico da Universidade de Osaka, destaca que muitos robôs falham na prática porque não atendem às necessidades reais de médicos e enfermeiros. “Os projetos geralmente são liderados por engenheiros que não compreendem totalmente os problemas enfrentados pelos usuários na rotina hospitalar”, explica. O resultado são máquinas sofisticadas, mas desconectadas das exigências do dia a dia médico.
Para Hashimoto, a chave do sucesso está justamente em superar essa lacuna entre tecnologia e aplicação clínica. Ele acredita que escutar os profissionais da saúde desde o início do desenvolvimento é essencial para criar robôs verdadeiramente úteis. Assim, Kawasaki pretende não apenas competir com os atuais líderes de mercado, mas estabelecer um novo padrão de excelência em robótica médica — unindo a precisão da engenharia japonesa com a sensibilidade das necessidades humanas.